Cada vez que escutamos uma de suas canções ouvimos um novo detalhe e
descobrimos uma nova canção dentro da mesma. A música de Michael
Jackson é como vinho precioso, ficando cada vez melhor com o passar dos
anos. Mas nada é imutável no mundo do Rei do Pop, e em 1997 ele nos
surpreendeu com o lançamento de
Blood On The Dance Floor para promover a segunda parte da
HIStory Tour, quase 2 anos após o duplo
HIStory.
Mas nada foi feito de supetão.
Blood On The Dance Floor estava em preparação, mas cercado de grande segredo, desde o mês de
novembro de 1996. No entanto, nenhuma das canções inéditas é realmente
nova. Para seus discos, Michael Jackson grava dezenas e dezenas de
canções – ficamos sem conhecer muitas delas, é bem verdade. A escolha
final é somente dele, e dela fazem parte as canções que ele acha que
realmente “merecem” entrar no álbum – o Rei do Pop é notavelmente
perfeccionista e diz que “não faz lados B”, sendo que todas as faixas
que ele coloca em um álbum são dignas de serem lançadas no formato
compacto, isto é,
single.
Em
Blood On The Dance Floor foram usadas canções
previamente gravadas e que não haviam sido escolhidas para entrar nos
álbuns para que haviam sido destinadas.
Eis uma declaração datada de 1998 de Teddy Riley, que compôs e
produziu a canção “Blood On The Dance Floor” com Michael Jackson para o
álbum
Dangerous: “Me surpreendeu o fato de Michael não ter
me chamado para retrabalharmos a canção “Blood On The Dance Floor”.
Ele se utilizou de uma gravação que fizemos há 5 ou 6 anos. Ele
deveria ter me chamado para gravarmos novamente, para dar uma
‘limpada’ no som. Eu acho que ela ficou um pouco velha…”.
Sabe-se, no entanto, que Michael deu essa “limpada” na música, pois a partir de janeiro de 1997, ao fim da primeira parte da
HIStory Tour,
ele começou a trabalhar em um estúdio de Los Angeles. Em companhia de
dois engenheiros de som, Eddie DeLena – com quem já havia trabalhado
em
HIStory – e Andrew Scheps, ele regravou algumas partes e as remixou.
Esse estúdio era o Record Plant, onde jamais havia gravado. Diante
de um console de 96 pistas (Solid State Logic 8000 G), ele foi
retalhando e remontando diversas canções. Entre elas, “Blood On The
Dance Floor”, “Morphine” – regravada a partir de uma versão demo feita
para o álbum
HIStory – e “In The Back” – que se mantém inédita
até hoje, pois acabou não entrando no álbum, apesar de ter sido
anunciada na primeira
tracklist divulgada pela Sony Music.
Para melhorar ainda mais a qualidade do som, ele retrabalhou as
canções no Mountain Studios de Montreux, na Suíça, fazendo a mixagem
final.
É fato que “Superfly Sister”, presente em
Blood On The Dance Floor, foi gravada para
Dangerous.
Bryan Loren, que compôs a música junto com Michael Jackson, fez as
seguintes declarações em uma entrevista dada à revista Black and White
em outubro de 1998: “Nós trabalhamos em cerca de 20 a 25 canções para
Dangerous.
Apesar de eu não ter sido incluído no álbum, posso dizer que minha
influência é presente. Todas as canções que figuram no disco lembram o
som das que fizemos juntos. “Superfly Siter” é uma delas. No entanto,
ela não foi a primeira escolha de Michael. Ele, na verdade, queria
incluir em
Blood On The Dance Floor uma canção que havíamos
criado chamada “Seven Digits”, mas ela não havia sido gravada. Michael
me chamou e eu comecei a trabalhar na instrumentação, mas abandonamos o
projeto pois Michael não teria tempo para a gravação”.
Outra canção que já estava pronta é “Is It Scary”, composta para a trilha do filme
A Família Addams 2 e não encaixada em
HIStory pelo fato de “não combinar” com o estilo das outras canções presentes
no álbum. Devido a desentendimentos entre Michael Jackson e a produção
do filme, ele decidiu não mais participar de sua trilha sonora – e a
produção deve ter se ressentido desse fato, já que há uma pequena
brincadeirinha de mau gosto com o Rei do Pop durante o filme.
Quanto a “Ghosts”, o que se sabe é que o filme estava pronto pela
metade em 1993, mas foi abandonado após o escândalo mundial que foi o
caso Jordan Chandler. A canção homônima foi então gravada para o álbum
HIStory, mas acabou não sendo incluída na seleção final das faixas.
Uma outra informação curiosa é que algumas das canções inéditas de
Blood On The Dance Floor foram
censuradas em alguns países ou realmente se mantêm inéditas até hoje,
pois foram cortadas do CD. No norte da África e em outros países de
cultura islâmica do Oriente Médio, Michael teve sua arte censurada.
“Blood On The Dance Floor” foi rebatizada para simplesmente “On The
Dance Floor”, pois a palavra “blood”, sangue, em português, é
considerada blasfematória pelos islâmicos. A expressão “out to kill” foi
substituída por “how does it feel” através de uma montagem, pois foi
entendida como uma apologia à violência. No refrão, uma outra
expressão problema: “look who took you under”. O fato de uma mulher
persuadir um homem não é uma idéia aceita nesses países, e a frase foi
substituída por “Susie got your number”. As montagens foram
suficientemente bem-feitas, como já seria de se esperar quando se
refere ao Rei do Pop, e as mudanças na cadência da música são quase
imperceptíveis.
“Ghosts” ainda teve seu nome mudado para “Ghost of Jealousy” para
evitar uma confusão e que se acusasse que o título faria uma alusão ao
sobrenatural. A expressão “put a knife in my back, shot an arrow in
me” foi retirada por inteiro. Por sorte, “Is It Scary” escapou ilesa
dos órgãos de censura.
Mas “Morphine” recebeu um tratamento de choque – ela se mantém
inédita no mundo árabe, pois foi excluída da prensagem dos discos
existente nesses países pelo fato de uma canção que fala sobre drogas
não ser aceita. Em outros países do oriente, ela foi renomeada para
“Just Say No”, que é o slogan da campanha contra as drogas em vários
países orientais. E “Superfly Sister” não poderia deixar de ser
revirada, e foi retalhada em pedacinhos. Toda e qualquer alusão
explícita à sexualidade foi suprimida.
Sobre os remixes, Michael nos deixou uma pequena palavrinha em uma
entrevista exclusiva ao pessoal da revista Black and White em abril de
1998: “O que posso dizer é que eu não gosto deles. Eu não aprecio o
fato de alguém mexer na minha canção e transformá-la em uma coisa
completamente diferente. Mas a Sony fala que os jovens amam os
remixes…”.
por Luis Fernando Longhi p/ MJBEATS