É fato sabido que quando Michael Jackson morreu, no dia 25 de junho, ele estava se preparando para uma série de 50 concertos em Londres, que começaria este mês. O que pouca gente sabe, e que vem motivando especulações, é o tipo de gravações que o ídolo vinha fazendo nos últimos anos.
A revista "Billboard" descobriu que o cantor estava trabalhando em dois álbuns no momento de sua morte: um no veio pop que o tornou famoso e outro que consistiria em uma composição instrumental clássica.
E, enquanto alguns pensam que o astro queria recapturar seus tempos de glória dos anos 1980 - ou resolver seus problemas financeiros -, as pessoas que trabalharam com ele recentemente dizem que o astro era motivado por seus fãs e seus filhos.
Jackson estava trabalhando em um álbum pop com o compositor Claude Kelly e o astro de R'n'B Akon, que diz que Jackson estava motivado pelas vendas de ingressos para seus shows.
"Ele falou: 'Meus fãs ainda estão aí fora. Eles ainda me amam. Ainda estão vivos'", contou Akon. "Seus filhos eram sua prioridade e nunca o tinham visto apresentar-se ao vivo. Ele estava tentando criar o espetáculo mais incrível para seus filhos."
Kelly, que escreveu "Hold my hand", a faixa de Jackson produzida por Akon que vazou no ano passado, afirmou que o cantor nunca perdeu sua paixão pela música.
"Ele era o rei do pop, e uma coisa que você nunca perde - quer seja conhecido pelo mundo inteiro ou apenas por dez pessoas - é o amor pela música", disse Kelly. "Isso nunca desaparece, e nunca desapareceu para ele, mesmo em meio a todos seus problemas."
Colaborações O compositor David Michael Frank tinha trabalhado com Jackson num tributo a Sammy Davis Jr. feito para a TV em 1989 e recebeu uma ligação do assistente do astro, dois meses atrás, convidando-o a colaborar de novo.
Jackson convidou Frank a ir a sua casa em Holmby Hills, em Los Angeles, e lhe disse que estava trabalhando em um álbum instrumental de música clássica e pediu ajuda com a orquestração.
"Ele tinha dois demos de duas peças que tinha composto, mas não estavam completas", diz Frank, acrescentando que ficou impressionado com o conhecimento de música clássica de Jackson.
"Para uma delas, ele tinha todo um trecho pronto na cabeça. Ele ainda não a tinha gravado. Ele a cantou para mim enquanto eu estava ao teclado, e a gente decifrou os acordes. Acho que essa gravação que fiz deve ser a única cópia dessa música que existe."
Algumas semanas atrás, Jackson telefonou para ver como Frank estava indo com as orquestrações. "Ele mencionou mais músicas instrumentais dele que queria gravar, incluindo uma de jazz", disse Frank. "Espero que algum dia sua família decida gravar essas músicas como tributo a ele e para mostrar ao mundo a profundidade de seu dom artístico."
Apesar dos questionamentos sobre a saúde de Jackson e seu impacto sobre sua dança e seu canto, as pessoas que colaboravam com ele afirmam que sua voz estava em ótima forma, apesar de sua aparência frágil.
O tecladista Greg Phillinganes, que trabalhou com Jackson como diretor musical da turnê "Bad" e apareceu em vários de seus álbuns, disse que a voz de Jackson estava tão boa quanto sempre havia sido.
"Ele ainda tinha uma boa voz e nunca teve problemas para cantar", afirmou Phillinganes, que falou com Jackson pela última vez em março.
"Havia dúvidas quanto a ele conseguir dar conta da série de concertos pelo lado da coreografia, mas fontes que trabalhavam com ele me disseram que ele estava dançando o tempo todo, todo dia, que estava muito focado, empolgado e decidido a fazer esses shows serem os melhores."
Fonte: G1
Mais:Mais Detalhes sobre o Álbum Instrumental que Michael Jackson Iniciou antes de partir, e seu Amor pela Música ClássicaO compositor de TV e cinema, Davis Michael Frank deve ter sido a última pessoa a colaborar com Michael Jackson em um projeto artístico.
A morte prematura do cantor pop deixou a realização do projeto pendente. Reportagens sugerem que Jackson planejara fazer um álbum de "música clássica" que ele mesmo havia escrito; as músicas deveriam ser orquestradas por Frank.
Na verdade, diz Frank, as músicas estavam mais apropriadas para trilhas sonoras e deveriam ter sido incluídas em um álbum instrumental, caso Jackson estivesse vivo. Frank, nascido em Baltimore, nos conta, em entrevista pelo telefone, como foi sua experiência com o Rei do Pop:
"Há 4 ou 5 meses atrás, recebi um telefonema de Michael Prince, o engenheiro de gravação de longa data de Michael Jackson, e ele me disse que Michael estava procurando alguém para fazer os arranjos de músicas orquestradas. Eu pensei que seria para a turnê que ele ia fazer. Nos próximos dois meses, ele me ligou dizendo 'Michael Jackson disse que vai ligar para você'.
Até o final de abril, outro Michael, o assistente pessoal de Michael Jackson, me ligou e marcou uma reunião comigo para o dia seguinte, as 10h da manhã. Eu dirigi até a casa de Holmby Hills e fui recebido pelo assistente que me convidou para entrar. Uma mulher vestida com uniforme de empregada, mas com um turbante branco na cabeça, me recebeu dizendo 'Michael Jackson estará aqui logo'. Dois miutos depois, ele desceu as escadas.
Ele imediatamente me cumprimentou com um aperto de mão firme. Ele era muito magro, mas estava muito longe de ser considerado frágil. Estava vestindo um terno e chapéu, pois estava indo ensaiar para a turnê. Ele me disse 'Você me parece familiar'. Eu disse a ele que há muito tempo atrás trabalhei em um tributo de TV a Sammy Davis Jr, no Shrine Auditorium (do qual ele participou) e que o havia cumprimentado brevemente naquela ocasião'. Ele respondeu 'Nunca esqueço um rosto'.
Então me contou 'Eu tenho 3 projetos simultâneos'. Um era a turnê, sobre a qual todos já tinham conhecimento. Os outros dois, creio eu, ninguém sabia. Um seria um álbum de músicas pop. Então ele disse 'O outro eu quero que seja um álbum de música clássica' - o que ele chamava de música clássica.
Ele disse que ouvia música clássica o tempo todo, que era sua favorita. Eu fiquei impressionado com as músicas que ele citou: Rodeo de Aaron Copland, Fanfare for the Common Man e Lincoln Portrait; West Side Story de Leonard Bernstein. Eu mencionei On the Waterfront de Bernstein e Michael disse que amava as trilhas sonoras de Elmer Bernstein também, especialmente To Kill a Mockingbird.
Eu percebi que quase todas as músicas clássicas que ele mencionou tinham um tom mais infantil e eram muito simples e bonitas, como Pedro e o Lobo de Prokofiev e O Quebra Nozes de Tchaikovsky. Ele também falou sobre Debussy inúmeras vezes, principalmente do Arabesque [No. 1] e Clair de Lune. Ele falava de uma forma muito calma sobre música, mas quando se animava a respeito de algo, mudava bastante. Quando ele mencionou que gostava de Elmer Bernstein, eu disse que gostava de Magnificent Seven e Michael começou a cantá-la bem alto.
Ele comentou que estava fazendo um CD. Então seu filho, Prince Michael, chegou e Michael pediu que ele buscasse o CD player. Paris achou um e trouxe para Prince. Michael tocou o CD. A música era muito bonita. Então ele disse 'Mas tem um trecho faltando'. Ele tocou outro CD e disse 'Tem um trecho faltando aqui também, mas eu canto para você'. Eu perguntei se ele tinha um piano e ele disse que tinha um na casa da piscina. Nos encaminhamos para lá, mas ele parou quando viu que o cachorro, que estava do lado de fora, estava encharcado por ter entrado na piscina. Ele não queria que nos molhássemos, então mandou o assistente segurar o cachorro enquanto nos encaminhávamos para fora. Foi bem engraçado.
Sentei ao piano e Michael cantou a parte da música que faltava. Eu havia levado um gravador comigo e perguntei se podia gravá-lo. A afinação dele era perfeita. Tentei encontrar os acordes enquanto ele cantava. Ele disse 'Os seus instintos sobre os acordes estão absolutamente certos'.
Conversamos mais sobre música clássica. Eu toquei algumas árias de Debussy e West Side Story. Michael parecia muito feliz e eu acho que ele se sentiu confortável comigo. Ele me contou que conheceu Bernstein e que Bernstein disse que era um grande fã de Michael.
De volta a casa, enquanto ele ia de uma sala a outra, podia-se ouvir 'Te amo, papai', e a resposta, 'Também te amo, Paris'. Todos pareciam muito felizes e totalmente normais.
Michael estava bem ansioso em orquestrar as músicas e gravá-las com uma grande orquestra. Sugeri que gravássemos na Fox, Sony ou Warner. Perguntei se ele poderia pedir para alguém me telefonar para discutir o orçamento e ele disse que cuidaria disso. Quando fui embora haviam diversos fãs do lado de fora do portão.
Mais tarde falei com ele pelo telefone. Ele me perguntou como o projeto estava e eu respondi que estava aguardando para acertar os detalhes. Sugeri que poderíamos gravar a música em Londres, enquanto ele fazia os shows. Ele gostou da idéia e mencionou novamente Arabesque.
Coloquei a música no computador e comecei a trabalhar na orquestração. Uma semana antes de Michael morrer, seu empresário, Frank Dileo me ligou e me pediu para enviar o orçamento por e-mail junto com uma prévia da música e os custos da orquestração.
Agora não faço idéia do que acontecerá com tudo isso. Espero que a família dê um jeito de realizar este projeto. Não vou mencioná-lo (com eles) até depois do que eu considero o tempo apropriado.
Imagino que cada música teria de 7 a 10 minutos de duração. Cada uma é mais substancial do que a outra e elas são lindas. Uma delas tinha um toque irlandês. Eu sugeri que usássemos uma harpa celta. Todas canções soavam como lindas trilhas sonoras de filmes, com uma harmonia muito tradicional e melodias muito fortes. Uma delas tinha um quê de Out of Africa de John Barry. Eu conseguia ouvir na minha cabeça cordas e instrumentos de sopro em união.
Eu disse a Michael que iria usar uma das batutas de Leonard Bernstein, que eu havia comprado em um leilão, quando fôssemos gravar as músicas. Ele riu e disse que iria adorar. Eu acredito que ainda usarei essa batuta, caso esse projeto se torne realidade."
Em honra do interesse de Michael Jackson na música clássica, como relatado por David Michael Frank, aqui está um desempenho de Debussy
'Arabesque' que o cantor aparentemente tinha em alta consideração:
Claire la LuneCréditos:Clef Notes/MJRock My World