Começando algoNunca vou esquecer da mensagem de Michael a qual La Toya, Janet e eu assistimos enquanto estávamos relaxando em frente a TV.
“Você não percebe que está apenas desperdiçando um tempo precioso?” ele advertia, “Levante-se e faça algo!” dizia a música. Eu me senti culpada por estar apenas sentada quando eu sabia que poderia estar fazendo alguma coisa.
Michael não falava sobre ficar parado e sentir culpado no final dos anos 70. Apesar dos The Jacksons estarem numa encruzilhada em sua carreira, não poderiam conter a sua vontade de evoluir por mais tempo. O álbum Destiny, de fato, foi lançado entre dois desafiadores projetos solo.
O primeiro foi a sua atuação como o espantalho de “The Wiz”, a versão da Motown para o “Mágico de Oz”.
Michael havia falado sobre se tornar um ator desde os anos 70. Ele havia atuado junto com os irmãos em esquetes que foram exibidos em 1976, mas achou aquele trabalho insatisfatório. “The Wiz” correspondia bem mais às suas expectativas. Michael soube que a versão exibida na Brodway havia ganho o prêmio Tony. Sendo assim, acompanhou com interesse a negociação dos direitos autorais do filme pela Motown, apesar do grupo não pertencer mais a gravadora.
Quando Diana Ross foi escolhida para interpretar Dorothy, Michael se sentiu mais incentivado para conseguir um papel no filme; ele se apaixonou por ela desde a época em que ele e seus irmãos se hospedaram na casa dela. “Você não será bonita até se parecer com Diana!” ele brincava com La Toya e Janet.
O fato de estarmos sendo processados pela Motown na época, fez Michael desanimar quanto as suas chance de participar do filme. Mas com o encorajamento de Diana ele seguiu em frente e fez o teste perante o diretor Sidney Lumet, para o papel de espantalho. Para o deleite de Michael, o Sr. Lumet adorou sua atuação e o escolheu para o papel.
Estar participando do “The Wiz” foi muito excitante para Michael. Eu lembro dele dando pequenos gritos entusiásticos quando terminou de ler o roteiro em seu quarto. Ele estava particularmente emocionado de estar trabalhando com um diretor do porte do Sr. Lumet, cujo acervo incluía Serpico, Assassinato no Expresso do Oriente, Um Dia de Cão, Doze Homens em Fúria. Ele divulgou esse fato para todos na casa. “Todos” no momento, incluía a mim e ao Joe, como também La Toya, Randy e Janet.
Pelo fato deles ainda viverem juntos na casa, Michael, Janet e La Toya eram especialmente próximos. De alguma forma, Janet e La Toya tinham a habilidade de trazer mais leveza, para o meu cada vez mais isolado, filho – nem que fosse por um momento.
Eles amavam brincar e pregar peças um no outro. Michael especialmente se divertia atormentando La Toya com suas falsas tarântulas. Ele colocava seus insetos de plástico em cima do telefone no quarto dela, a chamava e aguardava por seus gritos. Sabendo o quão reservada ela era em relação ao seu quarto. Ele também se deliciava em abrir a porta e pular sobre sua cama com lençol de cetim branco.
“Eu vou te ensinar a ser muito exigente!” ele exclamava em meio aos seus furiosos gritos.
Ao saber por Michael de seu orgulho por estar trabalhando com Sidney Lumet, La Toya arquitetou a melhor vingança de todos os tempos.
Um dia, pouco antes de Michael partir para Nova Iorque para o início das filmagens, ele recebeu uma ligação em sua linha particular, do “secretário do Sr. Lumet”. Sr. Lumet estava no bairro vizinho, a voz anunciou e estaria ali daqui a cinco minutos para levá-lo para jantar fora.
Michael não sabia o que fazer primeiro: ele não estava vestido e seu quarto estava uma bagunça. De alguma forma, em cinco minutos ele se fez apresentar, arrumado e saiu pela porta, falando para todos animadamente: “Sidney Lumet está vindo para me levar para jantar!”
Então ele se sentou e aguardou que o segurança lhe avisasse que o Sr. Lumet havia chegado. E esperou. Eu sentei com ele; Eu também acreditei que o diretor estava vindo.
Finalmente, La Toya confessou: “Michael, Sidney Lumet não virá buscá-lo para jantar. Era eu no telefone!”
Eu nunca vi Michael tão zangado. Ele arrastou La Toya para fora e a molhou da cabeça aos pés com a mangueira.
Michael não ficou sozinho em Nova Iorque, sua parceira de travessuras o acompanhou. Eu também fiz uma visita. Eu não só queria ver como Michael estava indo, mas também queria ver como era a rotina num set de filmagem.
Eu assisti a filmagem da cena em que Nipsey Russell, que fez o Homem de Lata, canta “Slide Some Oil to Me.” Essa cena foi refeita tantas vezes naquele dia que até perdi a conta.
Eu saí do set com mais respeito pelo árduo trabalho que os atores têm que fazer.
Michael teve que mostrar sua força no set mesmo quando não estavam filmando. Por exemplo, ele teve que suportar diariamente quatro horas de sessão de maquiagem para se transformar num espantalho. Enquanto eu não podia ver como todos, especialmente Michael, poderia ficar sentado por tanto tempo, ele não se importava com isso tudo. Uma das razões pelas quais ele gostava de passar por isso todo dia, francamente, era o fato de sua pele ainda estar lhe causando sofrimento.
Depois de um dia de gravação, Michael tinha que remover a maquiagem e seu olhos ficavam vermelhos e sua pele manchada. Um dia quando ele estava saindo do set, alguns fãs que o esperavam do lado de fora comentaram “Ei, esse é o cara que é contra as drogas!”. Michael pacientemente explicava que ele não havia mexido com drogas e que ele havia usado maquiagem o dia inteiro.
Michael também teve de lutar com a temperatura congelante. Ele havia me dito que numa cena de dança, na qual se utilizou dezenas de dançarinos, ficou tão frio que tiveram que parar. E, no entanto, Michael afirmou que o frio não o incomodava. Indubitavelmente, estava mais resistente devido a todos aqueles invernos de Gary.
Diana Ross foi um grande alicerce durante toda a filmagem. Michael se referia a ela como “minha mamãe” no set. Ela tinha o hábito de checá-lo em seu camarim, todas as manhãs. De qualquer forma, houve alguns momentos durante o ensaio de dança, nos quais Diana provavelmente ficou muito chateada com Michael. Michael havia aprendido os passos de dança do coreógrafo tão rapidamente, que ele acabou involuntariamente demonstrando isso à todos, incluindo Diana.
“Michael, espere um pouco!” ela teve que dizer-lhe, “Não faça isso tão rápido. Está me fazendo parecer ridícula!”
O lançamento de “The Wiz” ocorreu em Los Angeles, a capital mundial do entretenimento. Era a primeira vez que eu participava de um lançamento e foi exatamente da maneira que pensei que seria: estrelas, brilho e aplausos de fãs.
Infelizmente, o filme não foi bem recebido pelos críticos e isso bombardeou nas bilheterias.
Ainda havia uma esperança para Michael: no meio de tão duras críticas, haviam elogios à sua atuação. A cena em que seu espantalho segue pela Estrada dos Tijolos Amarelos de forma vacilante e graciosa foi apontada como um dos destaques do filme.
Mas eu sabia que a análise que mais importava para Michael era a de Sidney Lumet: “Michael é a pessoa mais jovem e talentosa desde James Dean. Um ator brilhante, um dançarino fenomenal, um dos talentos mais raros com o qual jamais havia trabalhado. Isso não é exagero.”
Michael considerou “The Wiz” uma ótima experiência de aprendizagem.
Mas mesmo que sua participação tivesse sido um desastre, teria valido a pena por uma razão: durante o filme ele conheceu o homem predestinado a ajudá-lo a fazer uma história na indústria fonográfica.
O encontro ocorreu numa situação cômica. Michael estava fazendo a cena em que ele deveria deveria puxar um pedaço de papel de uma de suas palhas e ler a citação. Quando ele chegou ao nome do autor, Sócrates, ele pronunciou “Soh-crates”.
“Só-cra-tes” um homem por perto sussurrou amavelmente.
Este homem, o qual Michael ainda não havia conhecido formalmente, era Quincy Jones, compositor trilha sonora do filme.