Ambos eram cantores, dançavam muito bem, fizeram um sucesso estrondoso e ficaram muito ricos.
Essa é uma resposta aceitável.
Mas há outra: o alto preço que Michaele Carmem pagaram pela glória e o estrelato.
46 anos separam as mortes dos dois. Mas suas trajetórias de vida têm semelhanças surpreendentes.
A quem se refere a seguinte frase? “...vinha sofrendo com uma insônia persistente nos últimos meses (...) e usava sedativos fortes para dormir (...) implorava pela prescrição desses remédios (...) era uma pessoa torturada pela insônia”.
Refere-se a Michael Jackson, em reportagem da Folha Online, sobre a suspeita de que o astro vinha usando soníferos para combater a dificuldade de dormir.
Mas poderia ser sobre Carmem Miranda. A cantora do século passado, um dos maiores fenômenos da música brasileira em todos os tempos, e que dividiu a carreira entre o Brasil e os Estados Unidos, também foi vítima desse mal.
“A quantidade de Seconal que Carmem tomava antes de se deitar não tinha mais a ver com dormir. Por ordens de seu organismo, o mínimo de três ou quatro cápsulas era simplesmente para ser tomado, mesmo que ela já estivesse com sono – e ai do organismo se não fossem tomadas”, conta o escritor Ruy Castro, na excelente biografia de Carmem (Carmem: uma biografia / Ruy Castro - São Paulo: Companhia das Letras, 2005).
Ele descreve com detalhes a rotina louca da vida da artista, submetida a shows e apresentações sem descanso, que a levaram a usar medicamentos. “Nos seis meses e meio que passara em Nova York (o ano é 1939) Carmem fizera nove espetáculos de Streets of Paris por semana, num total de 234 apresentações; quatorze aparições de meia hora no programa de Rudy Valée; e doze semanas no Waldorf com dois shows por noite, num total de 168 espetáculos. Total geral: Carmem subira profissionalmente ao palco pelo menos 416 vezes (...), uma média de 2,27 shows por dia, todos os dias. Não estão aí incluídos (...) as gravações de discos na Decca, as homenagens (...), as apresentações beneficentes (...), os ensaios e as passagens de som, as entrevistas para a imprensa, as sessões de fotografias, as poses para publicidade, as “aparições pessoais” em lojas, os almoços a trabalho (...) Como dormir depois dessas experiências? Sua média de sono diário não estava passando de duas horas.”
Quem pensa que os ídolos da música e do cinema vivem uma vida mansa e, nas horas de folga (?), podem curtir à vontade o dinheiro que ganham não imagina quanto custa a fama.
Carmem e Michael têm outro fator em comum: teriam buscado as drogas apenas para enfrentar a insônia e os problemas decorrentes do trabalho.
"Ele não parecia que queria sentir prazer ou se sedar com drogas", diz a enfermeira Cherilyn Lee, nutricionista de Michael Jackson. "Era mais uma pessoa que fugia das drogas. Alguém que estava procurando ajuda, desesperadamente, para poder dormir, para descansar”.
E sobre Carmem e o uso de Benzedrine, uma pílula para dormir, relata Ruy Castro: “Era uma cápsula mágica, ideal para os artistas. Fazia com que se aguentasse o rojão. Permitia que se varasse magnificamente a noite, emendando um show com o outro, e com o dia e a noite seguintes, sem sono, sem fome e sem cansaço. O uso de Benzedrine começava a ficar comum no meio (artístico). Em Nova York e Hollywood, estava sendo consumido com a naturalidade com que se tomavam um ou dois uísques antes de entrar em cena. Não era visto como droga e não se tinha idéia de suas conseqüências. Os médicos o receitavam com refrescante tranqüilidade (...) Para contrabalançar seus efeitos – afinal, às vezes, era preciso dormir -, havia os barbitúricos. Com eles, depois de passar dias inteiros no ar, acesa, tinindo, era possível finalmente apagar as luzes do proscênio, esquecer as réplicas, dispensar a platéia e dormir como uma tora: Seconal e Nambutal”.
O medicamento que Michael supostamente ingeria era outro: Diprivan, usado como anestésico e aplicado diretamente na veia. “Pode causar reações como hipotensão (diminuição da pressão arterial) e apneia (falta de ar)”, informa a reportagem da Folha Online. Uma das últimas vezes em que Michael aplicou Diprivan pode ter sido quatro dias antes da morte, em 21 de junho. Nesse dia, Cherylin Lee recebeu uma ligação de um membro da equipe do cantor, dizendo que ele precisava vê-la. “E eu respondi: o que há de errado? Eu podia ouvir Michael ao fundo dizendo, 'um lado do meu corpo está quente, muito quente, e o outro está gelado'." Cherylin revela que ele não foi ao médico, seguiu ensaiando para a turnê This is it e, provavelmente, não abriu mão da droga: “a única coisa que posso dizer é que ele foi teimoso sobre o uso do medicamento", comentou a enfermeira, sem, entretanto, afirmar que Michael teria abusado de analgésicos, sedativos ou antidepressivos.
Há boatos de que Michael usava nomes falsos para conseguir comprar medicamentos controlados. O advogado da família, Brian Oxman, revelou à imprensa que o astro abusava de remédios contra lesões nas vértebras. Diversos jornais apontaram dois medicamentos controlados como possível causa da morte de Michael: Demerol, um analgésico e sedativo injetável poderoso, e Propofol, um anestésico usado em cirurgias e que provoca redução de batimentos cardíacos.
No caso de Carmem, houve um fator agravante. A cantora, pequenininha, de apenas 1,52m de altura, mas forte como um touro, de uma hora pra outra começou a beber. E muito.
“Eram quase quinze anos de um processo longo e inexorável. Começara no dia em que uma cápsula para dormir exigira outra para acordar. Tempos depois, a cápsula para dormir exigira outras cápsulas para dormir; e a cápsula para acordar, outras cápsulas para acordar. Um drinque cancelara uma cápsula e exigira outra cápsula. Essa cápsula cancelara o drinque e exigira outros drinques. Em meio à ciranda, as cápsulas e os drinques haviam cancelado uma quantidade de neurônios e (...) Carmem já não sabia onde ficava a entrada ou a saída do infernal labirinto em que sua vida se convertera”, descreve Ruy Castro sobre o período em que se aproximava o fim da cantora.
E a respeito dessa combinação explosiva de medicamento potencializado pelo álcool, enumerou Ruy Castro: “a mesma tragédia (...) atingira vários outros grandes nomes de Hollywood como Mabel Normand, John Gilbert, Lupe Vélez, Robert Walker, Maria Montez e, depois de Carmem, mataria também Diana Barrymore, Marylin Monroe e Judy Garland – todos ricos, bonitos, famosos e com menos de cinquenta anos” – exatamente a idade com que Michael também nos deixou.
A propósito, Michael e Carmem tiveram ainda algo mais em comum: a solidão que marcou suas vidas. Ambos vieram de famílias grandes e pobres, com muitos irmãos, mas, assim que se tornaram estrelas de primeira grandeza do mundo artístico, se entregaram a uma vida solitária, do ponto de vista amoroso.
Michael teve filhos com uma mãe de aluguel, casou-se com a filha de Elvis Presley numa relação nebulosa, chegou a confessar em uma entrevista para televisão que não dava conta de ter relações sexuais. Substituiu tudo isso por uma espécie de amor devotado a Diana Ross e Elizabeth Taylor, e ainda a milhares de crianças que recebia em Neverland – até que acabou suspeito de pedofilia. Morreu sozinho, distante de todos, numa mansão gigante.
Tão grande quanto a casa de Carmem Miranda, em Los Angeles. Quando a carreira da “brasilian bombshell (a granada brasileira)” engrenou nos Estados Unidos, Carmem morou em casas enormes, até se fixar na última, de dois andares, com piscina, que vivia cheia de visitas – inclusive de brasileiros desconhecidos da dona da casa, de passagem pela Califórnia. Mesmo assim, Carmem era uma mulher solitária. O sonho de ter um filho nunca se realizou e o único casamento, com o americano Dave Sebastian, foi um fracasso que ela tolerou até a morte, porque não quis se divorciar, em respeito a seus princípios cristãos.
E VOCÊ, O QUE ACHA? A VIDA DE SUPERSTAR VALE A PENA? O PREÇO DA FAMA É COMPENSADO PELO DINHEIRO E SUCESSO? OU É TUDO UMA ILUSÃO?
Fonte: Blog do Benny