Rob Hoffman falando da sorte de trabalhar
com Michael Jackson
Na imagem do estúdio: (em pé) Craig, Andrew Scheps, Rob Hoffman, Brad Sundberg, Matt Forger.
(na frente) Bruce Swedien, Michael Jackson, Eddie Delena.
'Eu tive a sorte de trabalhar com Michael Jackson no início da minha carreira. Ele era um artista incrível. Extremamente generoso, e muito trabalhador.Talentoso além de seus sonhos. Eu, na verdade fui de assistente pessoal no
Hit Factory em NYC para engenheiro
freelance com Swedien e Michael.
Eles iriam começar a trabalhar em Los Angeles, quando aconteceu o terremoto de Northbridge, então eles se mudaram para Nova York. Uma sala era toda de Bruce, a segunda sala era a sala da escrita. Eu comecei auxiliando nos escritos do parceiro de Bruce, Rene Moore.
Eu via as coisas com Rene, e Bruce vinha depois e me dizia o que eu havia feito de errado, se sentava por algumas horas e nos mostrava o caminho. Depois de dois meses, Michael chegou e todo o equipamento foi movido junto com Brad Buxer, Andrew Schelps e Eddie Delena.
Eu continuei como assistente até que todos se mudaram para L.A., eles decidiram me levar junto com eles. Eu auxiliava Bruce durante o dia, e ajudava em todos os outros lugares mais à noite – auxiliando na engenharia, programando e tocando guitarra em uma música.
Nós tínhamos duas salas no
Record One, e duas salas no
Larrabee, onde eu conheci John. Em um momento em NYC, nós tínhamos quase todas as salas no
Hit Factory. A equipe era ótima, e eu aprendi muito com eles.
Eu aprendi a ser engenheiro com Bruce Swedien, John, e Eddie, e consegui me sentar com produtores como MJ, Jam e Lewis, Babyface, David Foster, Teddy Riley e Dallas Austin.
Eu fui, na verdade, convidado a deixar o projeto mais cedo porque haviam muitas pessoas em volta e Michael não me conhecia. Por sorte, fui recontratado 10 dias depois. Na festa de encerramento, Michael se desculpou e expressou sua gratidão. Verdadeiramente era o homem mais sincero que você nunca vai encontrar.
Algumas memórias:Numa manhã, Michael apareceu com uma música nova que ele tinha escrito à noite. Nós ligamos para um guitarrista, e Michael cantou cada nota de cada acorde pra ele: “aqui está o primeiro acorde, primeira nota, segunda nota, terceira nota. Aqui está o segundo acorde, primeira nota, segunda nota, terceira nota”, etc., etc. Em seguida assistimos ele dar a mais sincera e profunda performance de voz ao vivo, na sala de controle através de SM57.
Ele cantava para nós um arranjo de cordas inteiro, cada parte. Steve Porcaro uma vez me disse que havia testemunhado Michael fazendo uma das seções de cordas na sala. Tinha tudo na cabeça, harmonia e tudo. Não apenas oito míseras ideias fechadas, ele realmente cantava todo o arranjo em um gravador micro-cassete com paradas e preenchimentos.
Em certo momento, Michael estava bravo com um dos produtores do projeto, porque ele estava tratando a todos terrivelmente. Ao invés de criar umacena para pegar o cara, Michael o chamou ao seu escritório e um dos seguranças jogou uma torta na sua cara. Nenhuma outra ação foi necessária.
Durante a gravação de
Smile em
History, Bruce achou que seria ótimo se Michael cantasse junto com a orquestra. Mas evidentemente, não dissemos isso aos músicos. Nós colocamos ele em uma cabine de voz ao lado. Eles ensaiaram um pouco sem os vocais, em seguida, durante o primeiro take, Michael cantou, quase derrubando todos de suas cadeiras.
Seu beatboxing era sem paralelos, e seu tempo era absurdo. Seu senso de harmonia era incrível. Nunca tinha uma nota ruim, fora do tom. Até mesmo a sua respiração estava perfeitamente no tempo.
Uma vez, enquando estávamos num intervalo, eu acho que estávamos na verdade assistindo o caso de OJ [Simpson] na tv, havia um programa de notícias falando sobre Michael estar na Europa com algum garoto. Eu estava sentado próximo ao cara enquanto as notícias faziam essa *** em cima dele. Ele apenas olhou pra mim e disse: ‘É com isso que eu tenho que lidar.’
Eu passei três anos trabalhando com ele, e nenhuma vez questionei sua moral, ou acreditei em nenhuma daquelas alegações. Eu nem mesmo era um fã, até então. Eu o vi interagir com os filhos de seus irmãos, com os filhos de outras pessoas, e em um certo momento, com as crianças da minha namorada. Eu passei um dia em Neverland com eles.
Um ser humano completamente incrível, sempre buscando uma maneira de fazer todas as crianças viverem melhor. A cada final de semana, Neverland estava aberta para um grupo diferente de crianças – crianças com AIDS, crianças com câncer, etc., e a maioria das vezes ele não estava lá. Ele estava simplesmente vivendo a infância que nunca teve. De muitas maneiras, ele nunca cresceu.
Eu estava auxiliando Jimmy Jam e Terry Lewis com a gravação dos vocais de fundo de Scream com Michael e Janet. Os dois cantando juntos foi maravilhoso. Muito ajustados, sem notas ruins. Uma parte depois da outra. Quando eles tiveram um intervalo eles cantavam as músicas que costumavam cantar quando eram crianças. Novamente, harmonia perfeita. Michael se recusou a cantar a parte
stop f*ckin with me, porque ele não falava palavrão.
Eu fui o gravador de fitas dos vocais de fundo de
Stranger in Moscow. Estava apavorado. Michael estava tirando e colocando sílabas, reorganizando as notas e o timing como ele desejava. Nenhum
Pro Tools* até o momento, apenas 2 minutos de fita e meus socos.
* Famoso programa de edição e gravação de música.
Eu apaguei um overdub** de teclado ao vivo que ele tocou uma noite. Ele veio na manhã seguinte, subsituiu-o, e nunca disse uma palavra sobre isso.
** Técnica usada para graver várias vezes a mesma voz ou instrumentos para deixar o som mais cheio.
Eu estava lá quando Lisa Marie estava por perto. Eles agiam como duas crianças apaixonadas. De mãos dadas o tempo todo, ela saia do estúdio de vez em quando.
Nós gravamos uma canção de Natal durante o verão de 94 que precisava de um coral de crianças. Michael insistiu em ter todo o estúdio decorado com luzes de natal, árvore, neve falsa e um trenó para a gravação delas.E ele comprou presentes para todas.
Na última semana de gravação de
History, ele veio até mim e Eddie Delena, e disse 'Eu sinto muito, mas eu não acho que nenhum de nós vá conseguir dormir este fim de semana. Tem muito a ser feito, e nós temos que ir para Bernie na segunda-feira de manhã.'
Ele ficou no estúdio todo o tempo, cantando, e mixando. Eu pude passar um par de momentos calmos com ele durante este tempo. Nós conversamos sobre John Lennon uma noite, enquando ele estava se preparando para cantar o último vocal da gravação – um enorme improviso no final de
Earth Song. Eu contei a ele a história de John cantando
Twist and Shout enquanto estava doente, e embora a maioria das pessoas achasse que ele estava gritando para dar certo efeito, na verdade era como sua voz saia.Ele adorou, e em seguida entrou para cantar com todo o coração...
Mais tarde naquela noite, enquanto mixava, todos deixaram a sala, então Michael poderia ‘dar um show’. Isso era uma ocorrência comum durante as mixagens, e eu estava na sala com plugues nas orelhas e as mãos nos ouvidos, em caso de ele precisar de alguma coisa.
Esta noite em particular, todas as luzes estavam apagadas e nós notamos alguns flashes azuis se ascendendo intermitentemente durante o
playback. Depois de alguns momentos, nós podemos ver que um
dos auto-falantes estava disparando luzes azuis. Michael gostou disso e prosseguiu, acionando todos os outros auto-falantes.
Michael gostava de água quente enquanto ele cantava. Eu quero dizer... realmente quente!!! Chegou a um ponto em que eu iria derreter colheres de plástico para testar a temperatura.
Bruce e eu estávamos conversando sobre nossas caminhadas ao estúdio todos os dias em NYC, e sobre os rumos que tomamos. Michael olhava para nós e dizia que éramos muito sortudos de podermos fazer aquilo. Ele não podia caminhar na rua sem ser incomodado. Foi um momento triste para nós.
A equipe do estúdio ganhou ingressos para o show de Janet, então nós fomos todos direto do trabalho, uma noite. Na metade do show, vimos este rapaz com uma longa barba, vestido com uma túnica, dançando no corredor de trás. Quero dizer, realmente dançando. . . era Michael disfarçado. Com o tipo de traje que Chevy Chase usa em
Fletch enquanto patina.
Ele teve um dos primeiros
playstations da Sony em sua sala...nós entramos sorrateiramente tarde da noite para jogar os jogos que não haviam sido lançados ainda.
Algumas pessoas da sessão ainda não tinham visto
Jurassic Park enquanto estava em cartaz, então Michael arranjou uma exibição privada para nós, na Sony.
Ele era um grande fã do álbum
Downward Spiral, da banda
Nine Inch Nails.
Eu tive sorte o suficiente para, ao longo de três anos, ter acesso às
masters de múltiplas gravações, vídeos e arquivos completos. Uma chance para olhar dentro da mente dos grandes gênios. De todas as gravações que eu trabalhei,
MJJ foi a única empresa a ganhar discos de platina. Um dia todos nós sentamos no estúdio e ouvimos o catálogo dele para ter inspiração. Ele amava o processo, ele amava o trabalho.'
by Rob Hoffman
FONTE: Fórum Neverland