Enquanto vivo, a trajetória discográfica de Michael Jackson tinha claramente um ar decadente. “Invincible”, seu último disco de inéditas, lançado em 2001, e portanto com o artista ainda vivo, é um desastre. “Michael”, o primeiro álbum póstumo, lançado um ano após sua morte, é uma tragédia.
É de se entender, portanto, todas as reticências quanto a “Xscape”, registro de inéditas lançado nesta semana. A surpresa é que “Xscape” seria o disco que teria feito o mundo curvar-se novamente ante o autoprocalmado Rei do Pop se ele estivesse vivo. Curvemo-nos diante de sua memória, porque ele ainda reina.
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O que faz “Xscape” ser diferente não é exatamente o trabalho de diversos produtores em faixas esquecidas de Michael Jackson, já que esse foi o mesmo embrião que se transformou no horroroso Michael, de 2010. O que chama a atenção é o tipo de trabalho feito em cada faixa. A seleção de produtores encabeçada por L.A. Reid e Timbaland soube, na maioria das vezes, quando intervir nas composições originais e preservar muito da personalidade de Jackson nas canções.
E isso fica evidente na edição de luxo de Xscape que, além das 8 faixas inéditas, traz ainda as versões originais de cada canção. É o caso de Love Never Felt So Good, faixa composta originalmente em 1983 e que abre este novo disco. Tanto na demo, quanto na versão final, todos os elementos musicais de um Michael Jackson que havia acabado de lançar Thriller ao lado de Quincy Jones estão lá. Resultado: a faixa derrama suingue.
Já Chicago, a segunda faixa parece um híbrido da faseDangerous (1991) com letra de Billie Jean no estilo “ela me fez mal”. Loving You e Slave To The Rhythmsão dois exemplos de um polimento exagerado por parte dos produtores que tirou um pouco da identidade das canções. A tentativa de dar uma sonoridade mais contemporânea acabou deixando as duas faixas artificiais.
Entretanto, esse mesmo tipo de intervenção é melhor em A Place With No Name. A faixa funciona muito bem tanto na versão final quanto na original, ainda que as duas sejam musicalmente distantes. Enquanto a original é uma faixa com violões e bateria acústica, a roupagem da final parece uma parceria entre Michael Jackson e Daft Punk.
Fonte: Terra Brasil