Sempre que algum executivo da Epic Records e da Sony Music fala sobre o segundo CD póstumo de Michael Jackson (1958-2009), a “defesa” tem um argumento. O disco “deixaria Michael orgulhoso”. A garantia é de L.A. Reid, produtor executivo do disco, presidente da Epic e parceiro da nata do pop e R&B.
O G1 ouviu as oito inéditas de “Xscape” em evento para jornalistas, em São Paulo. O disco será lançado no dia 13 de maio e está em pré-venda no iTunes. Uma edição deluxe terá as gravações originais.
Liberar as versões pré-produzidas do 12º trabalho do rei do pop, sucessor do “detonadíssimo ‘Michael’ (2010)”, é mais uma tentativa de mostrar que houve mais cuidado desta vez com as sobras de estúdio que Michael deixou. É fácil constatar que “Xscape” é melhor do que o primeiro CD póstumo. O trabalho é mais cuidadoso, mas ainda assim o CD fica em um espaço nada nobre da discografia do cantor. No geral, é um disco bem ruim.
‘Love never felt so good’
O disco começa com uma batida animada, levemente dançante. Depois, piano e falsetes ganham força. É a mais conhecida: vazou nos anos 2000 e foi composta nos anos 80 por Michael com Paul Anka. Nunca foi lançada, mas quem é fã do cantor já deve ter ouvido. Há trecho que faz lembrar vagamente “Levon”, de Elton John.
‘Chicago’
Com batidas mais graves e pesadas, ele canta de forma menos suave. Os vocais são gritados, em estilo “They don’t care about us”. O Michael de voz meio raivosa duela com um Michael de voz doce e anasalada. Mas o confronto entre tipos de vozes do rei do pop não dá liga. É o pior momento de “Xscape”. As primeiras versões da música foram gravadas em 1987. Houve uma segunda tentativa de recauchutar os versos em 2009, para o CD “Invincible”, de 2001. Sim, esta foi a terceira tentativa de botar a música em um disco.
‘Loving you’
É uma faixa simples, um pouco menos agitada. Poderia facilmente ser um lado B de algum disco de Michael Jackson nos anos 90. Ele canta que se sente triste, mas que vai se encontrar com ajuda do amor. Nada tem a ver com “Who’s lovin’ You”, faixa de Smokey Robinson regravada com sucesso pelo Jackson 5.
‘A place with no name’
Irritante no começo, ela melhora do meio para o fim. Tem o refrão mais cantarolável do disco. O “na na na” repetido no último minuto de canção até que funciona, mas tem sonoridade um bocado artificial. Foi a primeira música a vazar após a morte de Michael Jackson. Um trecho de 24 segundos foi divulgado pelo site TMZ, em julho de 2009.
‘Slave to the rythm’
Tem um clima épico no início, mas depois descamba para um eletrônico de dar dor de cabeça em quem não curte arranjos muito poluídos, cheios de camadas. Michael conta a história de uma mulher que dança e se diz “escrava do ritmo”. É uma canção ok, com produção de Timbaland (já requisitado por Madonna, Justin Timberlake e Nelly Furtado). É outra que já é bem conhecida de quem se interessa por sobras de Michael. Os primeiros esboços da então “Slave 2 the rhythm” são do comecinho dos anos 90. Em 2013, uma versão em dueto com Justin Bieber foi tocada em rádios e postada no YouTube. Saiu do ar.
‘Do you know where your children are?’
Sintetizadores dividem espaço com os famosos gritinhos de Michael Jackson. É “u-hu” para lá, “i-ih” para cá… O arranjo é frenético. “Ela escreveu que está cansada de ser usada por seu padrasto / Dizendo que ele vai lhe comprar coisas, enquanto abusa sexualmente dela”, canta Michael. O cantor foi acusado duas vezes de abusar sexualmente de crianças.
‘Blue gangsta’
“O que você vai fazer?”, pergunta inúmeras vezes Michael, em R&B muito repetitivo. O vocal oscila entre o mais sussurrado e o “revolts”. “Estou encantado com o que você disse e com as coisas que você fez para mim”, declara-se. A letra até ganha pontos por ser emotiva, direta. Mas a parte musical é bem aquém do que se espera do rei do pop. “Blue gangsta” parece sobra de estúdio do Black Eyed Peas, não de Michael Jackson.
‘Xscape’
A faixa-título é uma das melhores do CD. Bem acabada, ela tem um Michael de voz às vezes irreconhecível e isso não prejudica a música. Trata-se de uma colagem de vozes, batidas e levadas que faz qualquer um se mexer. É mais uma que ficou de fora de “Invincible”.
Fonte: G1