A lenda é quase grande demais para
ser compreendida, mas nunca deixa de ser fascinante. Como fazer sentido
de Michael Jackson, um homem cujo talento imensurável é muitas vezes
ofuscado pelas manchetes dos tablóides? O ex-vocalista do "Jackson 5"
saltou para a fama com seu álbum solo de 1982, Thriller (cujo vídeo foi
declarado o maior já feito pela TV Guide e MTV). Então, em 1993, as
alegações de inocente infantil feitas contra ele por um garoto de 13
anos - acusações que foram resolvidas fora do tribunal por uma quantia
não revelada, e que o cantor nega com veemência - manchou fortemente a
sua imagem platinada. Ainda assim, Jackson pressiona o "on". Sentado em
uma suíte de hotel de Nova York, a estrela pop notoriamente tímida é
carismática e efervecente - até mesmo, um "cara normal" - quando ele
discute projetos futuros, incluindo um CD, ainda sem título, que ele
descreve como "feliz, música dançante, coisas de relacionamento", e um
álbum em que se reunirá com seus irmãos. E depois há "The Nightmare of
Edgar Allan Poe", em que irá estrelar como o escritor do século 19.
Programado para filmar no próximo ano, Jackson diz que está fazendo o
filme porque a vida de Poe, fala: " É muito interessante",
acrescentando, sem ironia: "Eu amo um artista que não faz apenas o que
lhe dá segurança".
TV Guide: "Thriller" mudou os vídeos de música para sempre. De onde você tirou a idéia?
Michael:
Meu irmão Jackie veio à minha casa e disse: "Estás vendo esse show que
está na TV? Tudo o que eles fazem é tocar música. É a MTV. Eu o avaliei e
pensei que o conceito era muito interessante. O que eu não gostei foram
os vídeos, que eram apenas uma colagem de imagens, eu pensei que se eu
fosse fazer um, gostaria de fazer algo com um pouco mais de valor de
entretenimento. Meu sonho era fazer algo com um começo, um meio e um
fim, como um curta-metragem.
TV Guide: Você já imaginava que Thriller e os vídeos do álbum iria catapultar a sua carreira na estratosfera?
Michael:
Eu realmente não pensei sobre o que o álbum faria, eu só queria criar o
que eu gostaria de ver. E o meu principal objetivo para [o vídeo]
"Thriller" era fazer algo que seria assustador, divertido e emocionante.
TV Guide: Como você olha para aquilo, agora?
Michael:
Eu vejo isso como um momento feliz e um momento triste. Porque ele
realizou um monte de meus sonhos. A notoriedade foi maravilhosa.
TV Guide: Você também disse que foi um momento triste.
Michael: Sim. Se eu não fizer exatamente o que estou pensando, eu fico muito deprimido.
TV Guide: Você quer dizer que o álbum ainda não fez jus ao que você tinha imaginado?
Michael: Não completamente.
TV Guide: Quais músicas deixaram você decepcionado?
Michael:
"Wanna Be Startin' Something". Compor é uma forma de arte muito
frustrante. Você tem que colocar na fita exatamente o que está tocando
dentro de sua cabeça. Quando eu escuto-o aqui [aponta para a cabeça], é
que é maravilhoso. Tenho de transcrever aquilo para a fita. "The Girl Is
Mine" [seu dueto com Paul McCartney] não era completamente o que eu
queria, mas é muito agradável. Mas "Billie Jean" está toda lá. Trabalhei
tão duro com isso. Eu trabalhei durante três semanas só para dominar o
baixo.
TV Guide: A luva, as meias brancas, a jaqueta de couro vermelha - como essas coisas surgiram?
Michael:
A luva era apenas - eu pensei que uma era mais legal do que duas. Gosto
de realçar o movimento. O olho vai para onde o branco está - a luva. E
os pés, se você está dançando, você pode colocar um ponto de exclamação
no seu movimento, se tiver um pouco de luz sobre ele. Então eu usava
meias brancas. E para o desenho da jaqueta, eu me sentava com as pessoas
que fizeram a roupa a dizer-lhes onde eu queria um botão ou uma fivela
ou um desenho. Mas eu não uso mais esse visual. É triste ficar preso ao
passado. É por isso que eu não ponho prêmios em minha casa. Não existem
Globos de Ouro, nenhum Grammy. Eles estão guardados. Eu não gostaria de
estar cheio de orgulho, porque eu sentiria como se eu não tivesse mais
coisas para alcançar. E isso não é verdade.
TV Guide: Você sente que o seu período mais criativo ainda está por vir?
Michael:
Eu acho que o melhor trabalho está chegando, mas eu gostaria de ir para
outras áreas, não continuar a fazer álbuns pop após álbuns pop.
TV Guide: Há artistas que estão fazendo coisas interessantes musicalmente?
Michael:
Há algumas idéias criativas maravilhosas, mas eu acho que ninguém está
sendo realmente inovador. Eles estão principalmente pegando os antigos e
tentando integrá-los com o novo.
TV Guide: Há alguém com quem você gostaria de trabalhar?
Michael: Há uma grande quantidade de artistas que admiro, mas não.
TV Guide: Qual é a sua música favorita?
Michael:
Você ficaria chocado. Esta manhã eu estava cantando Rogers e
Hammerstein. Esse é o material que eu canto em casa - "My Favorite
Things" de "The Sound of Music" e "Absent Minded Me", essa canção de
Streisand. Eu também sou um grande fã dos antigos musicais da MGM, eu
sou um grande fã da melodia.
TV Guide: Qual é sua canção favorita para apresentar?
Michael:
"Billie Jean", mas só quando eu não tenho de fazê-lo da mesma maneira. O
público quer uma determinada coisa. Eu tenho que fazer o moonwalk no
mesmo local [risos]. Eu gostaria de fazer uma versão diferente.
TV Guide: Quem é seu público hoje?
Michael:
Eu não sei. Eu apenas tento escrever uma música maravilhosa, e se eles
amam, eles amam. Eu não penso de forma demográfica. [A gravadora] tenta
me fazer pensar dessa maneira, mas eu só faço o que eu gostaria de
ouvir.
TV Guide: Há um novo Michael para o milênio?
Michael:
Sim, tenho algumas coisas planejadas. Acho que vai ser totalmente
diferente do que eu fiz antes. Há uma canção no novo álbum chamado "I
Have This Dream". É uma canção do milénio sobre o mundo e o meio
ambiente, co-escrita com Carol Bayer Sager e David Foster.
TV Guide: Você acha que vai sair em turnê de novo?
Michael: Eu não penso assim. Isso exige muito de mim.
TV Guide: Você raramente sai em público sem um disfarce. Por quê?
Michael:
Eu não vejo outra maneira. Eu tentei tudo [risos]. Temos gordos.
Freiras. Palhaços. Truque ou ilusão é o melhor para mim. E Mardi Gras
[tipo de máscaras].
TV Guide: Você acha que nunca vai ser capaz de andar livremente como você mesmo?
Michael:
Eu me disfarço por diferentes razões. Eu gosto de estudar as pessoas -
ser como a mosca na parede. Mesmo que sejam as duas senhoras de idade
sentadas em um banco ou algumas crianças em um balanço. Porque eu não
sei como é viver em uma situação cotidiana. Uma vez eu estava em uma
loja de discos, completamente disfarçado, e umas meninas estavam
comprando o meu álbum e falando tudo sobre mim. Eu estava literalmente
ao lado delas. Foi maravilhoso. Eu adorei. Mas se eu sair como eu mesmo,
não posso ter divertimento. As pessoas sempre dizem: "Por que não
apenas ir a uma festa?" Logo que eu estou dentro, a festa acabou - para
mim. É uma festa para eles, mas eles estão colocando todas as seus
cartões na minha cara, dizendo: "Lembra de mim? Eu te conheci, há quatro
anos no..." E eu digo: "Eu não me lembro." Então eu não posso desfrutar
da experiência. Tocam todas as minhas canções. Eu não vim para ouvir
minha música. E todo mundo começa a cantar, gritando: "Dance!"... Bem,
eu quero ver você dançar, para variar.
TV Guide: Você acha que, dada toda a mídia negativa que você teve, as pessoas vão julgá-lo apenas pela sua música ?
Michael: Eu penso que não. Porque [a imprensa] me fez esse monstro, esse louco que é bizarro e estranho. Eu sou nada disso.
TV Guide: Há alguma coisa que você possa fazer para mudar essa impressão?
Michael: Bem, tudo o que posso fazer é ser eu mesmo e criar a partir de minha alma. Mas eles pegam isso e manipulam.
TV
Guide: Mas o que vai fazer você parecer bem para pessoas que pensam,
"Ele é estranho, ele tem animais exóticos em sua casa", ou ...
Michael:
Deus criou os animais. E eles são amáveis, eles são maravilhosos. Eu
sinto o caminho que [a antropóloga] Jane Goodall faz ou qualquer um
desses naturalistas. Eu não acho o meu interesse em animais, de qualquer
modo, esquisito ou estranho.
TV Guide: E sobre cirurgia plástica?
Michael:
Todos em Hollywood fazem cirurgia plástica! Eu não sei por que eles
miram em mim. A imprensa exagera. É apenas o meu nariz, você sabe. Eles
querem que seja tudo. Só o nariz não é suficiente. Elvis operou o nariz -
Lisa Marie [Presley, com quem Jackson foi casado de maio de 1994 a
janeiro de 1996] me disse. Eles não falam sobre isso. Eles só apontam
para mim. Não é justo.
TV Guide: OK, bem, agora que você
citou Lisa Marie, eu li que você disse que ela lamenta não ter tido o
seu filho e que ela ainda pode querer ter um filho com você. Isso é
verdade?
Michael: Bem, eu me lembro que é como ela se sentia na
época [risos]. Não importa o que eu diga, estou com problemas com essa
questão - a próxima edição [do TV Guide] provavelmente vai dizer: "Bem,
Lisa disse que ela não quer vê-lo de novo nunca mais!" [risos].
TV Guide: Você dois são amigos agora?
Michael:
Lisa é doce. Eu gosto muito dela, e nós somos amigos. E quem sabe o que
o amanhã trará? Eu não tenho nenhuma idéia de como ela se sente hoje.
Eu só vou dizer isso. Ela vem até minha casa e vê os meus filhos [de
Jackson, do segundo casamento, com Debbie Rowe, com quem se casou em
novembro de 1996 e que pediu o divórcio em outubro de 1999], e nós nos
falamos ao telefone, esse tipo de coisa.
TV Guide: Você acha que você vai casar de novo?
Michael: Isso seria ótimo.
TV Guide: O que faria o encanto acontecer pela terceira vez?
Michael: Ele [o encanto] só tem que me pegar. Você tem que ver essa pessoa e pensar: " É ela. É a única."
TV Guide: Você se sentiu assim com os seus dois casamentos?
Michael: Sim. É claro.
TV Guide: Você desejaria ainda ser casado?
Michael: Sim, eu queria. Mas você tem que fazer o que é melhor. O que acontece, acontece. Você tem que respeitar isso.
TV Guide: Quem são seus amigos mais íntimos?
Michael: Elizabeth [Taylor], com certeza. Nós vamos ao cinema toda quinta-feira.
TV Guide: Você vai a uma sala de cinema comum?
Michael:
Eu quero ir para o estúdio Warner Bros, e ela se recusa. Ela diz: "Não,
estou te levando pra fora." Então, vamos direto para esta área - que
não posso dizer qual é - e caminhamos direto pra lá e dentro normalmente
está vazio, porque [a maioria] das pessoas estão trabalhando no
momento. [Os funcionários do cine] dizem, "Uau, venham", e nós nunca
pagamos. E nós somos os únicos que podem pagar! [risos]
TV
Guide: Vamos falar sobre os seus filhos [Prince Michael, 2, e Paris
Katherine, 1]. Tenho que perguntar-lhe sobre este negócio que saiu nos
jornais recentemente sobre você e Debbie não serem os pais biológicos de
seus filhos, sobre ela está sendo fecundada com óvulo de outra mulher,
por inseminação artificial.
Michael: Isso é lixo total. É só lixo e não é verdade.
TV Guide: As crianças vivem com você em Neverland?
Michael:
Eles estão em Neverland há duas semanas. Acho que eles perceberam pela
primeira vez que é o seu lar. Usaram-na sempre pensando que era algum
resort. Nós ficamos em hotéis em todo lugar. Eles não percebiam que o
trem e a estação de comboios era para eles, e que os passeios são para
eles. Agora eles falam: "Nós queremos ir para Neverland!"
TV Guide: Como são as suas personalidades?
Michael:
Prince me diz todos os dias que ele tem de fazer filmes. Então eu
comprei para ele esta câmera de vídeo. Eu digo: "O que estamos fazendo
neste momento?" Ele diz, "Star Wars". Então nós colocamos alguns bonecos
sobre a mesa, e os fazemos se mexerem. E Paris só agora está começando a
falar e andar. Ela é muito doce. E eu estou surpreso como ela adora
bonecas. Minha irmã Janet não gosta desse tipo de coisa. Ela era uma
moleca. Eu pensei que [Paris] ia ser assim, mas ela não é.
TV Guide: E você está trocando suas fraldas e dando comida a eles?
Michael:
Sim, eu amo isso. É um monte de trabalho. Eu achava que estava
preparado, porque eu li tudo sobre criação de filhos, mas é muito mais
emocionante do que eu jamais imaginei que seria. O único arrependimento
que tenho é que eu gostaria de ter feito isso antes.
TV Guide: Você canta e dança para eles?
Michael: Isso é o que eu faço para mantê-los quietos, se eles estão chorando. Se eu começar a dançar, eles ficam quietos.
TV Guide: Você quer ter mais filhos?
Michael: Com certeza. Eu disse ao meu pai [Joe]: "Eu vou igualar seu recorde". Ele teve 10.
TV Guide: Como é o seu relacionamento com seu pai agora? Você esteve distante dele por um tempo.
Michael:
Agora, eu tenho o melhor relacionamento que eu já tive com ele. Acho
que, com a idade e o tempo, ele está mais amadurecido para se tornar uma
pessoa agradável. Ele vai simplesmente me diz, "Como você está? Você
está comendo? Isso é tudo que eu queria saber". E não: "Quero que você
assine este contrato!". Ele só quer saber se eu estou bem. Eu acho que é
realmente agradável. E minha mãe [Katherine] é como um perfeito anjo.
TV Guide: Aos 41 anos, você está feliz?
Bem,
eu normalmente sou feliz. Eu não deixo nada me derrubar, não importa o
quê. Eu gosto de ouvir o som da água e pássaros cantando e risos, você
sabe. Eu amo tudo que é autêntico, verdadeiro, coisas inocentes. Eu
nunca iria para uma festa ou um clube. Eu fiz isso quando eu era
criança, e não me interessa mais fazer isso.
TV Guide: Eu
achei chocante ler uma citação recente em que você disse que, se não
fosse o seu desejo de ajudar as crianças do mundo, você jogaria a toalha
e se mataria. Você realmente se sente assim?
Michael: Eu sempre pensei assim. Porque eu sentiria que eu não tenho nada pelo que viver.
TV Guide: Nem mesmo para si mesmo e para sua própria criatividade?
Michael:
Eu não me importaria. Tudo o que crio é inspirado por esse tipo de
inocência. E a natureza, é tudo.. Tem que ser. Eu quero dizer, é isso
mesmo.